sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

RESENHA: BOTINADA: A ORIGEM DO PUNK NO BRASIL


Nota: 7,5

Botinada: A Origem do Punk no Brasil é um documentário lançado no ano de 2006, dirigido pelo grande jornalista musical Gastão Moreira, que visa elucidar o surgimento da cultura punk rock no Brasil no final dos anos 70 e começo dos anos 80, seu desenvolvimento e seu legado nos tempos atuais.

Através de entrevistas, matérias da época (jornais, revistas, rádio e TV) e fotos o documentário traça de forma fidedigna o desenvolvimento do punk na cidade de São Paulo. São diversos entrevistados, como Redson (Cólera), Clemente (Inocentes), João Gordo (Ratos de Porão), Fábio (Olho Seco), Kid Vinil, Supla, entre outros membros importantes da cena.

Diante de toda opressão que a sociedade vivia em tempos de ditadura militar, a geração jovem crescia com desejo de mudança. De mudança no visual careta da época, mudança no comportamento passivo, mudança no conformismo e o canal encontrado para dar vazão a todos esses anseios foi o punk rock.

Restos de Nada, com Clemente na formação
Tudo começou no final da década de 70, com o rock progressivo em baixa e bandas consagradas com performances cada vez mais egocêntricas, além da consolidação da discoteca. Surgiram então nos Estados Unidos e Inglaterra bandas na contramão dessa porcaria toda, eram nomes como The Clash, Ramones, Sex Pistols, Stooges, Danmed, MC5, The Jam, entre outras. Apesar de muitos dos que vieram a brilhar na efervescente cena já terem bandas, o norte para estética visual e sonora seria definido através do contato com estas bandas.

A primeira polêmica apresentada pelo documentário tem motivo no local de surgimento do movimento punk no Brasil, com os brasilienses e paulistas reivindicando cada um para si o mérito. Os brasilienses dizem que os discos chegaram primeiro lá e os paulistas afirmam que não é porque os discos chegaram que eles eram punks, além do que eram filhinhos de diplomatas, o que banaliza um pouco a vocação punk dos rebentos da capital federal.
As publicações não entendiam bem qual era a do movimetnos

Através de revistas e publicações, na maioria das vezes com informações desencontradas, a molecada foi tendo contato com os punks britânicos, porém quando questionados nas matérias de Tv da época, os próprios punks não sabiam ao certo explicar sua ideologia. Tirando o visual calcado pelas jaquetas de couro, coturnos, braceletes, bottoms e os cabelos raspados ou espetados ou moicanos, o conhecimento do movimento em si era muito raso.

Tudo era muito amador e os poucos garotos que conseguiam ter acesso aos LPs das bandas, emprestavam uns para os outros, proliferando as gravações de fitas K7. As fitas K7, inclusive, eram a trilha das baladas punk da época, que tocavam as bandas nas pistas dessa forma extremamente precária. Havia também o começo da divulgação do som punk no rádio, num programa comandado por Kid Vinil, a mesma iniciativa era feita por Marcelo Nova numa rádio em Salvador.
Apresentação caótica do Olho Seco

As primeiras bandas a serem consideradas punk no Brasil vieram no final da década de 70 e foram Joelho de Porco e Banda do Lixo, mas na efervescência do movimento vieram Restos de Nada, Ai-5, Cólera e Condutores de Cadáver. Depois com o final de algumas dessas, surgiram outras bandas, como Ratos de Porão, Inocentes, Olho Seco, Ulster, Garotos Podres, entre outras.

Vistos pela sociedade e por grande parte da imprensa como violentos, vândalos e arruaceiros, os punks paulistas não faziam muita questão de mudar essa impressão, pois formaram diversas gangues, que brigavam entre si e havia também uma enorme rivalidade entre os punks paulistas e os punks do ABC, chegando a gerar morte e incidentes graves como bombas caseiras sendo explodidas no meio de apresentações. Todo esse caos impediu muitas vezes que o movimento se consolidasse e ganhasse mais espaço.

Toda a garra do Cólera
Quando as principais referências do movimento se entenderam e decidiram buscar a paz entre os membros as coisas começaram a fluir, com apresentações maiores e a realização do festival clássico Começo do Fim do Mundo, que uniu diversas bandas no Sesc, num festival bem organizado, mas que terminou em briga, porém desta vez nada grave.

Apesar de nenhuma banda ter atingido grande sucesso comercial, somente algumas poucas tem status cult, o movimento punk abriu caminho para todo rock mainstream que viria a seguir com bandas como Ira!, Titãs e Ultraje a Rigor. Isso sem falar na importância histórica do movimento, que sem apoio de ninguém, se desenvolveu às próprias custas em meio a porradas de todo lado, e conseguiu se firmar durante alguns anos levando ao pé da letra a cultura do “do it yourself”, batalhando no dia-a-dia, prezando pela diversão e liberdade de expressão.

Mesmo com toda descrença carregada na mensagem do punk rock, o documentário mostra que eles deixaram um legado de motivação, de que pra mudar qualquer coisa que seja, você só precisa de uma coisa: disposição.


David Oaski




Nenhum comentário:

Postar um comentário